BLOGAGI

quatro e meia da madrugada, SP
*uma ligação não atendida*
-Foi a Rapha... não quero fazer interurbano.
-Tá, deixa que eu ligo pra Gabi.

-Alôdhfjsdh
-Eric?
-Não, Cabeção, Gabi.
-Tava dormindo?
-Tava, q q vc quer?
-Cadê a Rapha?
-Sei lá, deixei ela com a Lilian.
-Tá, vou ligar pra ela.
-Se não achar, me liga de novo.
-Podexá.

*algum tempo antes na Barra Funda...*
-Rapha, voxê xabe dirigggggggir?
-Não, Lilian, pq?

*liga pra Lilian*
-ALOW!!!
-Oi! Cadê a Rapha?
-Tá aqui!
-Chama ela q a Mônica vai falar.
*Rapha no cel*
-Oi, qual o endereço daí mesmo?
-Rua ***ão, é.......

-Qual o número daqui mesmo?
-321.

-Ah é! 321.
-Valeu!

*no carro, 5 min depois da ligação*
-Qual o número mesmo, Rapha?
-Ih, esqueci... Ah, vai subindo a rua q eu lembro qual é o prédAQUI!


*pega o elevador*
*chega em casa*
*faz barulho*
*tira o sapato*
-COMÁSSIM???

The End

Nenhum ser humano foi ferido durante a realização desses diálogos.

Em priscas eras, eu era um dependente de blogues.

Confesso.

Não me bastava lê-los ou admirá-los à distância. Eu precisava ter os meus próprios. Aqueles que eu criaria desde pequenos até virarem mega-ultra-fucking-power-plus centros de informação e influência na internerd. E, daí, com as minhas crias, dominaria o mundo.

Então pus em prática o meu plano de conquista da Ásia, Europa e mais dois territórios à minha escolha.

Se alguém tinha alguma idéia para um projeto, uma festa ou organizava um baile da terceira idade, lá ia eu explicar o que era um blogue, o que poderia ser feito e, é claro, como seria fantástico deixar-me cuidar dos bichinhos: "Deixe comigo... deixe... olhe para a mão direita... veja como ela é bonita... dexe seu blogue comigo."

Eventualmente funcionava.

Só que blogue é um bicho arisco, requer tratamento cuidadoso, atenção e, principalmente, exposição contínua à nerdesfera. E outras demandas orgânico-sexuais de minha própria pessoa – como trabalhar, jogar RPG, comprar roupas e, eventualmente, tomar banho – me tomavam tempo demais para cuidar deles.

Se ainda fossem gatos seria mais fácil. Essas criaturas espertas conseguem mandar emails, fazer banners dos blogs correlatos, se inscrever em bloglists e webrings e, principalmente, disparar spams para outros amigos felinoz. Ou será que só Clementine, da Lilhá, é que faz isso?

Bom, resultado é que os blogues foram fenecendo um a um. Mesmo o primeiro, onde arregimentei uma legião de nativos da tribo khomen'níngh'uem para mantê-lo vivo ainda sob o auxílio de aparelhos, cai aos poucos no oblívio digital.

Ainda assim, mantenho a esperança em ter algum tipo de reconhecimento no mundo cibernético-digital, mesmo que seja para conseguir algum tipo de sexo casual, fortuito, à toa ou mesmo por distração.

E tenho dito.

Dia 31 de dezembro de 2006, perto da meia-noite, sacada da casa do Lilhão na ZL - que é tão treta que teve fogos de artifício espocando até em cima do cemitério, véi. Pela milésima vez eu digo: "não, eu não tenho blog!". E pela milésima primeira vez o Junior ri da minha cara e me acusa de ser uma adepta dessa atividade do mal. Pior, ele fez isso na frente do Fabinho, justo do Fabinho. O cara mudo demoníaco que tem cara de Harry Potter e carrega dentro de si o espírito maligno do Théo. Como sempre, eu não me dei por vencida. Afinal, a perspectiva de pertencer ao temível clã dos Blogueiros era demais pra minha pobre cabecinha processar. Repeti pra mim mesma o mantra: "eu não tenho blog" setecentas e duas vezes, quando resolvi partir pra atitudes mais drásticas: enchi a cara com dois copos de vinho. Sim, eu sei. Não me orgulho disso.

Momentos mais tarde, no quarto do Lilhão, entoava tranquilamente a o canto de ordem da noite - Tô Bêbada La La La La La - sem sequer desconfiar do golpe que me aguardava, quando a Ovelha Negra pronunciou as palavras fatídicas: "Pois é, véi, preciso te incluir no Blogagi". Foi um choque. À minha volta, o Hobbit Feliz, o Cachola e a Mafiosa Judia sorriam maleficamente, concordando com a Ovelha. E nem pro Junior estar por perto prame salvar, namorado mais safado impossível.

Eu acabei sorrindo também, sem ter aonde colocar as mãos nem a cara. Fazer o que, né? Fui então nomeada membro OFICIAL da Blogagi. Oh, senhor, que venha o fogo dos céus.

Acho que agora o jeito é criar um blog mesmo.

O QUE??? Não, caraleo, eu NÃO TENHO BLOG!

Ainda.